Uau. Já lá foram cinco anos. Uau. Uau inúmeras vezes. Uau é a palavra que mais lhe ocorre. Uau.
Olhou para o calendário umas cinco vezes para confirmar que era mesmo hoje, para cair nela que já lá foram cinco anos. Uau.
Já é mesmo hoje?
Lágrima após lágrima foi circulando pelo pequeno rosto daquela menina. Inevitável a existência dessa sensação. A da falta, a da saudade.Mas pergunto-me, terá ela razões para estar assustada? Terá ela razões para se tornar a menina indefesa e medrosa de quando lhe chamavas de "tua pequenina"?
Passou assim tanto tempo desde a última vez que lhe chamaste dessa forma? Passou assim tanto tempo desde que lhe agarravas a mão e prometias nunca a largar? Passou assim tanto tempo desde a última promessa que fizeram de um "Para Sempre"? Terá passado assim tanto tempo ou será que ainda não passou tempo suficiente?
Bastarão dois bens materiais para confirmar que nunca irá passar tempo suficiente? Ou será preciso também um pequeno caderno, que estará provavelmente guardado numa gaveta, para confirmar a falta desse tempo?
Sei que vi essa pobre menina, sentar-se à umas quatro horas, sobre um banco castanho, com um caderno já gasto. Sei que a vi escrever uma história, história essa saberás tu certamente qual é, posso ajudar-te apenas com o título que observei "Eu e Tu, Tu e eu, Nós os Dois... Para Sempre". Tentei caçar-lhe alguns pormenores, apenas me disse que era somente a história da vida dela, um amor eterno, que jamais morrerá. Tal resposta suscitou-me o interesse em perguntar-lhe, sem hesitar: "acreditas mesmo em Para Sempres?". Ela sorriu e aquilo que eu vi no olhar dela, bem, não consigo explicar. Embora visse lágrimas a fugirem daquelas enormes olhos castenhos, vi também um brilho especial que me deu a certeza da plenitude em que se encontra, da felicidade que escarnece.
Pausadamente respondeu-me "só um verdadeiro amor pode captar um Para Sempre de alguém, e um Para Sempre pode durar apenas segundos, como pode durar um milénio inteiro. O meu Para Sempre foi descoberto pelo meu verdadeiro amor, no momento em que senti nele aquilo que nunca tinha sentido com ninguém, no momento em que lhe entreguei o meu coração. Sabes, o meu Para Sempre é assim: verdadeiro e único. Existirá um só coração unido por outros dois, eternamente, talvez fique guardado numa gaveta. Tal como o meu pequeno diário ficou até hoje. Mas uma coisa eu sei, é Para Sempre uma pequenina e um grande. Estejam eles onde estiverem. Estejam eles com quem estiverem."
A resposta deixou-me pensativa, mas tantas certezas só podem comprovar algo que nunca ninguém conseguiu de facto desmistificar como mito ou não, o primeiro amor, é realmente o único amor verdadeiro? Ganhei a certeza que sim, eu vi nos olhos dela e percebi que passados cinco anos, ela consegue ainda ter essa certeza.
Irá algum dia passar tempo suficiente que me diga, a mim, à tua pequenina, que não foi verdadeiro? Aliás, que não é verdadeiro?

Obrigado por tudo, obrigado por tudo durante uma vida inteira.

CF com amor e alma.