
Quando levantei a cabeça e a claridade me atingiu, semicerrei os olhos e abanei a cabeça confusa. A professora falava alto e olhava para mim pelo canto do olho de vez em quando. Ainda me estava a habituar à claridade, já devia ter passado muito tempo desde que tinha mergulhado nos rabiscos negros que fiz na folha do caderno. Percorri a sala com o olhar e garanti que ninguem estava a olhar para mim, o que não era verdade. A Ana atrás de mim ainda brincava com o meu cabelo, a Catarina ao meu lado continuava a escrever qualquer coisa no caderno que não tinha nada a ver com a aula e o resto da turma continuava a rir de cosias sem piada nenhuma.
Olhou para mim e baixou a capa do caderno que me tapava a cara.
-aposto.
-quê?
-aposto contigo que ele é só mais um, como todos os outros. Quando vocês estão sozinhos ele ama-te, claro que sim, mas aposto que se apareceres à frente dele enquanto está com os amigos, ele fica pior que mal e depois… já sabes, ahahah.
Olhei-a com um ódio tremendo, levantei-me e com a voz rouca gritei.
-cala-te, que mural é que tens para dizeres isso? Não o conheces, ele não é assim! Não é como os outros!
-sim, sim espera mais uns tempos e depois diz-me alguma coisa, ahahah.
-ele ama-me.:’
-Cristiana querias que ele disse-se que te odeia, não?
-ele Ama-me, eu sei. :’
-aqui tu és a Cristiana Mendes, lá tu és a “criancita de 12 anos”. Qual é o rapaz que não teria vergonha? Aqui toda a gente sabe que és diferente, que tens maturidade, aqui o pessoal conhece-te! Aqui chamam-te de “boa”, e só te querem “comer”, lá ele não pode dizer que namora contigo. Foda-se, tu sabes como eles funcionam. Até podes ser a rainha aqui, mas lá ele é o rei. Fica no teu canto, e esquece.
-agora sou a Cristiana Ferreira, e não tenho vergonha de ter 12 anos! Não quero ser essa rainha, não quero ser famosa isso não me dá felicidade nenhuma! Não me importo de ser só eu, aliás é só isso que quero. Confio nele, sei quem ele é. Não me interessa minimamente aquilo que dizes, eu conheço-o. Eu Amo-o. :’’
-apostas?
-não aposto coisas parvas.
Sentei-me novamente. Ganhei uma lágrima no canto do olho, era tudo um medo constante, mas que naquele instante se tinha tornado ainda maior, ela voltou a olhar para mim e riu-se como se tivesse razão, mas eu sabia que não, eu tinha a certeza que ela não a tinha. Senti-me frustrada por sentir que a razão estava do meu lado.
Tocou, saí e fui para o portão, chegou o carro e fui embora, as dores eram imensas. :x
Não estava a aguentar, estava a precisar do meu príncipe, mesmo sabendo, mesmo tendo a certeza que nada do que ela tinha dito era verdade, estava com uma cara horrível, não sei o que se estava a passar, estava tão mal. :’
Tive que ir ao hospital, passei pelo Porto e disseram-me que só podia ir mais tarde, às 15h30 ou talvez às 16h, só sabiam que por essa hora tinha que estar lá, só porque o médico tinha-se lembrado de chegar mais tarde. A enfermeira perguntou a minha mãe o que é que eu ia fazer, ela respondeu-lhe, e a senhora disse:
-é o primeiro dia, ou o segundo?
-ontem já vim, é o segundo. Porquê?
-hoje vai doer o dobro, isso é do crescimento é quase normal, mas esse exame dói bastante, e hoje ainda vai ser pior, por certamente já estares dorida.
Um ser ao meu lado, acabou por reparar no meu rosto, percebeu que tinha mudado muito e tirou-me dali de dentro. Estava outra vez com umas lágrimas no canto do olho, estavam a tentar aguentar-se, mas estava a tornar-se difícil.
Esse ser só queria que eu estivesse bem, e fez de tudo para consegui-lo. Levou-me a almoçar a um restaurante novo (era engraçado), levou-me a uma gelataria, e depois levou-me ao shopping (comprou-me roupa bonita), mesmo assim eu não queria nada disso. :’’
Ela percebeu-o e foi descobrir onde era o CEI, levou-me lá para ver o meu príncipe. :’’’
Mesmo sabendo que aquilo que a Catarina tinha dito não era verdade, eu precisava de sabê-lo com os meus olhos. :’’
Foi tão estranho, cheguei e só via pessoas do privado. A turma das janelas da frente estava toda a olhar, começaram a acenar, pura brincadeira. Comecei a ver pessoas conhecidas, cada vez se tornava mais estranho e eu só queria o meu príncipe. Não sabia dele, não lhe podia mandar mensagens nem entrar lá dentro. Apenas fiquei sentada e esperei.
O Fábio ligou-me (não sabia que ela andava naquela escola) e perguntou-me o que é que eu andava lá a fazer, pedi-lhe apenas para chamar o meu herói. Chamou-o, e ele veio a minha beira. :’’
Olhou para mim, acho que nem um sorriso deu, pensei mesmo que fosse ficar feliz. Deu-me a mão, tinha um poder infinito, não pude fazer mais nada. Ele teve que ir para a aula e eu fui embora, foi pouco tempo, mas deu-me força para aquilo que teve que acontecer a seguir.
Precisava apenas de o ver, de sentir aquela magia. Obrigado, valeu a pena ver o príncipe. :’’’
Percebi que ele não gostou, desculpa, mas mesmo assim eu toquei-te. :’’
Voltei ao Porto, entrei eram 16h07min, a senhora tinha razão. Doeu o dobro, as dores foram enormes, pensei que não fosse aguentar.
Sou muito Fraca, sem ti caía e (…)
Fim
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