DAR TEMPO AO TEMPO

Não sei falar, juro que não sei, pelo menos não agora, as palavras escondem-se neste nó. Se falares comigo, eu simplesmente digo para esperares um bocadinho, a não ser que sejas tu, para ti arranjo sempre palavras vindas de algum lado, que nem mesmo eu, sei onde começa ou termina. Se não fores Tu, eu escondo-me no meu cantinho, e quando me perguntam o que se passa, eu digo que o sono me cobriu a alma, isto explica o cansaço que dizem ver no mesmo rosto e o facto de estar sempre de olhos fechados encostada a uma parede branca. Não sei se algum de vocês vai ler este texto, eu espero que não, mas se lerem, não me perguntem mais o que se passa. Acreditem que isto sou só eu, eu e as minhas coisas, os meus bocadinhos de gente… ouçam-me através das palavras que deixo por aqui, ouçam-me através do silêncio, ele assusta-me, mas quem sabe se não é o melhor?
Lá fora já está muito escuro, e eu sinto-me quente. Tenho a pele gelada, e as veias a ferver, sinto-as percorrerem-me o corpo e ouço o bater desta coisinha cá dentro, uma estranha sensação para um alguém. Por tudo o que sinto, hoje considero-me um alguém, por tudo o que dói, até demais.
Tento encontrar palavras correctas para vos contar uma história, uma história muito bonita, para que no final se sintam gratos por terem perdido tempo a sentirem e a aprenderem algo novo. Já se aperceberam que todos os dias aprendemos algo, seja connosco mesmos ou com o mundo que está ali ao lado?
Como estava a dizer, continuo a pensar numa história que vos faça dizer um olá ao coração que tanto teimam em esconder… não que estejam errados, é isto que ainda não sei, mas espero um dia descobrir se devemos entregar-te todo o nosso coração ou se o devemos esconder, para que não nos sacrifiquemos à dor.
Sabes, escrever uma carta para ti seria muito mais simples, existem indeterminadas coisas para te dizer, são muitas aquelas que estão guardadas e que eu vou carregando comigo, mas não devo fazê-lo, estaria a matar mais um pedacinho de mim, estaria a sacrificar-me intencionalmente.
Nunca ninguém está realmente preparado para qualquer coisa, acreditamos que sim e é certamente o melhor para nos mantermos firmes.
Eu mantive-me como qualquer pessoa se mantém, até que decidi que sentar-me seria uma boa solução para não sentir o cansaço, depois deitei-me e até agora ousei escolher ficar assim, quieta, parada.
Eu errei, tu erras-te, na verdade todos erramos, não é? Todos nos tratamos de uma maneira um tanto ou pouco surreal e tem dias que achamos que não precisamos de fazer nada agora, porque amanha teremos todo o tempo que imaginamos.
Não tenho uma história bonita, mas tenho este pedaço de mim para partilhar com vocês.
Hoje deste-me a tua mão, apertas-te a minha até eu deixar de acreditar que ao nosso lado existia um mundo, um silêncio gerou-se à nossa volta e agora não passa disso. Ou melhor, passa muito disso, mas por agora parou, parou por completo. Partis-te «guarda-me para sempre no teu coração»,

e foi isto que ficou intacto no meio de tanta coisa, aliás que ficou relembrado de uma forma única, e é isto que eu acreditei, para onde quer que tenhas ido, para onde quer que estejas, levaste-me contigo no coração, eu dei-te uma metade daquilo que sou e deixei-o guardado num sitio especial. Como sempre os sonhos, aqueles que habitam em mim, desmereceram por um breve tempo e agora restam-me vocês, que lêem aquilo que está aqui, entendem-me ou então aconchegam-me a alma, mas eles continuam aqui e como me fizeste prometer, eu continuarei, posso demorar uma eternidade, mas continuarei a lutar por eles, ponto por ponto, até ao último capítulo da verdadeira história. Por agora, deixem-me assim, protejam-me,