"Querida e eterna avó,
Sabes, já cresci uns quantos centímetros e o meu cabelo? Oh, as vezes já acho que não vale a pena, mas pronto, ele está a crescer e um dia vai voltar aquele comprimento que tu tanto admiravas; olha, na escola está tudo bem, melhor dizendo, está tudo mal, não gosto nada nada daquela escola. Oh, eu juro que faço um esforço, mas não me identifico com ninguém, não consigo compreender metade do que eles dizem ter piada, não consigo mesmo, eu prometo continuar a esforçar-me, e sabes porquê? Olha, já é o último ano, é, eu sei, ainda parece que foi ontem que deixas-te de me ver a chegar a casa todos os dias, da antiga escola.
Lembras-te de quando dizias que eu era diferente do resto do mundo? Também nunca te consegui contar, não me deixas-te esse tempo, para te contar no meu futuro, naquilo que queria ser como gente, como humana, mas também não interessou. Tu sempre disseste que seria uma “mulher de raça” e que conquistaria aquilo que quisesse com uma força transcendente. Tens-me feito muita falta, e gostava de poder partilhar contigo todos os temas que terminam em ponto de interrogação cá dentro, tenho-me sentido aflita e aquilo que parecia tão sólido num dia para o outro tornou-se nalgo que ainda estou a tentar descobrir.
Eu sei que se estivesses cá, jamais deixarias que me fosse abaixo, acho que nem dirias nada, talvez fosses buscar uns jogos e arranjavas maneira de me distrair e mostrar o quanto eu consigo ser “grande” (como tu dizias, quando eu era um pisco de pessoa). Oh, e se desta vez viesses cá, só para me confirmar que tudo vai ficar bem? Ou então, diz-me apenas que não posso desistir de nada que tenho vindo a lutar desde sempre, diz-me por favor. Sinto falta de ti, sinto falta do teu aconchego, sinto falta das tuas bolachas, sinto falta das tuas condições de que eu beneficiava, sempre, sem excepção.
E é nestes dias, quando quero desistir de tudo e tentar ser normal, que sinto tanto a tua falta. Porque não ir para uma escola normal? Porque não estudar, sem praticar um desporto que tanto tempo ocupe? Porque lutar por um amor impossível? Impossível dirias tu que é uma palavra inexistente no nosso mundo, é sempre tudo possível, não é?
Olha avó, eu sei que foste tu que me ensinaste a ser assim; sei que possuí de ti, toda esta teimosia e sei também que me fizeste naquilo que sou hoje, mas sabes, nem sempre sou forte como querias que fosse. Às vezes, deixo-me ir abaixo e desculpa-me por isso. Um dia, quando voltar a estar contigo e me deres um enorme puxão de orelhas por tudo isto, eu vou sentir-me uma estúpida por terem havido dias em que não fui como tu confirmas-te ser o melhor, mas também vou sentir-me uma sortuda, por terem existido pessoas como tu, que tanto me ensinaram, que tanto contribuíram para o meu crescimento, para esta pessoa que está aqui hoje.
E agora acho que vou parar de escrever. Oh, tu sabes que para falar contigo, eu estava aqui um tempo interminável, tenho sempre imensas coisas para partilhar com o teu coração e acho que também não vou reler nada disto, não porque não quero, mas porque não consigo. São demasiadas as coisas hoje, são demasiados os sentimentos que rondam neste país de doidos.
Por favor, ajuda-me só um bocadinho, amo-te muito.
Com saudade,
Cristiana"
3 comentários:
tu és forte meu amor.
nunca estarás sozinha, se precisares de ombro para chorar, se precisares simplesmente e um abraço, eu estou aqui. nunca estarás sozinha. ♥
Ela estará sempre cá para ti. De uma forma ou de outra, ela irá sempre acompanhar-te. :'
i love you, sis.
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